domingo, agosto 26, 2007

Solar Crespi Prado

Fabio da Silva Prado era filho de uma das mais tradicionais famílias paulistas: neto de célebre Dona Veridiana e bisneto do lendário Barão de Iguape, nasceu em berço esplêndido, e assim seguiu por toda a sua vida.

Mas foi ele um dos protagonistas das mudanças que ocorriam no século XX: ao invés de unir-se a uma paulista quatrocentona, em 1914 ele desposou Renata Crespi, filha do italiano Rodolfo Crespi, industrial que possuía um imenso cotonifício na Mooca. Sim, esqueci-me: Conde Rodolfo Crespi, mas imigrante sem brasões dourando o nome. Claro que não foi escândalo, pois já haviam ocorridos outros matrimônios entre nacionais e imigrantes, notadamente nas classe baixas. Na elite o primeiro foi o de Amália Ferreira Cintra com Andrea Matarazzo, seguido do de Alexandre Siciliano e Laura Mello. A velha terra dos bandeirantes e de seus orgulhosos netos que se autoproclamavam quatrocentões começava a se adequar aos novos tempos.


Renata era parte da nova elite composta pelos industriais e comerciantes italianos que começavam a galgar o espigão do Caaguaçu em demanda aos bairros nobres da cidade. Aí é que se pode desfazer um erro histórico que se prolonga há décadas. Inaugurada em 1891, a Avenida Paulista foi endereço da nova classe que enriquecia na indústria e no comércio , notadamente os italianos, alemães e libaneses. As elites quatrocentonas ainda estavam em Campos Elíseos, Santa Cecília, parte da Barra Funda e, preferencialmente, Higienópolis. Na Paulista residiam alguns nomes nacionais, mas já ligados a profissões liberais ou à indústria. A baronesa de Arary só em 1917, já viúva, deixou os Campos Elíseos e mudou-se para o palacete projetado por Victor Dubugras na esquina do Parque Villon. A grande maioria dos barões do império já estava residindo no cemitério da Consolação no início do século XX...


Inicialmente Fabio e Renata moraram na Avenida Paulista, numa casa projetada pelo escritório Ramos de Azevedo. Entre 1934 e 1938 Fabio foi prefeito da Capital, promovendo grandes obras de urbanização, como as reformas do vale do Anhangabaú e criação do Parque do Ibirapuera (obra que só se concretizaria anos mais tarde).


No início da década de 40 construíram um magnífico solar na distante rua Iguatemi, na época cheia de chácaras e casas humildes. Os Jardins ainda ensaiavam os primeiros passos.


Construído em estilo Neoclássico ele já nasceu um pouco anacrônico, pois os estilos em voga eram o saudosista Neocolonial ou o moderníssimo Art Decô. Em duas alas que abraçam um grande pátio, no corpo central existe o segundo andar que confere a grandiosidade característica do estilo, com seu inconfundível frontão onde se lê a data de construção: MCMXLX.



Colecionadores de arte, Renata e Fábio criaram a Fundação Crespi Prado e instituíram prêmios para diversas categorias artísticas. Também se destacaram na filantropia e nas ações culturais que promoveram em Araras, cidade do interior paulista onde possuíam fazenda.


Em 1963 morre Fábio, e a viúva fica preocupada com o que fazer com a casa e o acervo, já que não tiveram filhos. Assim, em 1975 faz uma doação ao governo paulista, que anos depois instala ali o Museu da Casa Brasileira.


Nos fundos do terreno foram plantadas muitas árvores, junto as que já ali estavam na época da construção. Uvaia, abacateiros, jabuticabeiras, cedros, paineiras, jerivás, jambeiros, uma miscelânea linda e graças a Deus quase toda identificada com placas que informam nomes popular e científico, características e procedência. Uma beleza.


Certamente que Fabio havia herdado esse amor pela cultura e pelo belo de seus antepassados. Seu bisavô, o Barão de Iguape, era famoso por ajudar companhias teatrais. Sua avó, Veridiana, teve um dos mais importantes salões culturais do período, assim como seu tio, Antonio, que como ele foi prefeito da cidade e residia na Chácara do Carvalho, na Barra Funda.


Claro que tudo o que Fabio fez foi por ter encontrado eco em sua companheira, que possuía alma aberta ao belo e era animadora da cultura. Na imagem ao lado vemos o busto de Renata feito por Victor Brecheret em 1926.


Curioso notar que se salvaram da autofagia da cidade essas três casas importantes: a de Veridiana é sede de um clube; a de Antonio virou o colégio Madre Cabrini e a de Fábio transformou-se nesse museu que é motivo de orgulho para quem vive nesta cidade.


Boa semana!


Para ler mais sobre o tema visite http://rickbandeirante.wordpress.com/2007/08/26/filhos/

domingo, agosto 05, 2007

Parentes são meus dentes...

... e ainda me mordem a língua. Sempre usei esse provérbio em casos de problemas familiares, numa exagerada expressão de egoísmo e falta de confiança no próximo, notadamente aqueles de mesmas características genéticas. Mas na verdade os dentes muitas vezes se assemelham aos parentes problemáticos e nos dão cada dor de cabeça... Eu que o diga!

Vejam só o que aconteceu comigo na semana que passou. Todos os nomes dos envolvidos serão trocados, para evitar constrangimentos.

Já há alguns dias que marquei consulta de rotina com meu dentista, Dr. Sizenando, que fez o seu trabalho – escove bem os dentes, diminua o café, use fio dental, patati, patatá -, além da limpeza de tártaro e clareamento. Até aí nada de excepcional. Acontece que ele notou meus dentes irregulares (como se isso fosse grande mérito) e recomendou-me procurar um ortodontista, indicando inclusive uma profissional ali mesmo, sua vizinha.

Marquei então consulta com a Dra. Reduzinda, que rapidamente examinou-me e pediu que eu fizesse uma série de exames, numa clínica ali perto. Muito bem.

No dia seguinte liguei na tal clínica e fui atendido pela Pulquéria (nome fictício, como já disse), mas nem imaginava que ali começava uma série de acontecimentos que me envolveriam num turbilhão de intensas emoções... Expliquei o que queria, porém creio que ela ficou encantada com minha voz de rouxinol cantando numa tarde de outono. Por quê? Ora, ela começou a fazer uma série de perguntas sobre mim: nome completo, idade, onde morava, até mesmo meu telefone celular ela pediu. Minha célebre perspicácia já me esclareceu tudo: essa está no papo.

Aqui abro um parêntese necessário: não tirem conclusões precipitadas, tomando-me por um Casanova do século XXI, que sai alardeando suas proezas de alcova, por favor não. Também não tenho culpa se nasci assim, charmoso e irresistível ao desejo do sexo frágil. Apenas estou relatando o acontecido para ilustrar o que é a alma feminina. Tenham paciência, sigam a leitura. Fecho parêntese

No dia aprazado fui ao consultório, mas cheguei um pouco antes do horário marcado, apenas para sentir a reação de Pulquéria. Foi como eu esperava: ela ficou notadamente abalada:

- Mas você está uma hora adiantado!

Sorri meu melhor sorriso, pisquei o olho direito e respondi que não tivesse pressa, eu tinha todo o tempo do mundo, hehehe. Ela dirigiu-se para uma sala, fechando a porta detrás de si, enquanto pacientemente eu aguardava na recepção.

Passados alguns minutos retornou e, sem me encarar, o que tomei como timidez e recato, pediu que eu preenchesse uma ficha. Vi que ela já tinha anotado ali todas as informações pedidas por telefone. Faltavam apenas alguns campos: endereço, estado civil e, pasme, SEXO(!). Isso mesmo, sexo. Danadinha...

Agora convencido de maneira inquestionável de que todas que minhas suposições estavam certas, rapidamente preenchi as informações solicitadas e aguardei ansiosamente o desenrolar das coisas.

Em seguida ela me chamou para uma sala mais reservada, onde havia um grande equipamento de raio X ou coisa que o valha. Fiz ali os exames necessários, ao cabo dos quais ela pediu que eu ficasse junto a uma parede, pois iria tirar algumas fotografias. Vejam só, ela estava caidinha mesmo, até foto minha já queria! Pediu que eu sorrisse, mas isso nem era necessário: com um ar sexy posei para aquela mulher que tão claramente me desejava. Foi nesse momento que decidi acabar com aquele jogo de gato e rato, e me aproximei dela. Seus olhos assustados tentavam disfarçar o desejo que a consumia desde o instante em que me viu; tentou se afastar mas eu romanticamente sussurrei ao seu ouvido um galanteio capaz de derreter as calotas polares:

- Acho que nossos dentes querem se conhecer melhor...

Aí que o caldo entornou: no lugar de oferecer-me seus lábios de mel como a Iracema do Alencar, o que ela me deu foi uma joelhada em local extremamente sensível, para em seguida tomar uma vassoura e me enxotar do consultório, me insultando de maneira insana. Nem quero pensar no que ela fez ao ler o que escrevi na ficha no campo SEXO...


Quem é que pode entender as mulheres???

Boa Semana!!!!