Domingo à noite, o sono demorando a aparecer, ligo a televisão em busca de ajuda para adormecer: sempre existe um programa soporífero, que em poucos minutos nos faz cair em letargia.
Pois comecei a assistir um que, ao contrário do que esperava, espantou de vez o sono, não por que fosse de qualidade ou interessante, mas sim pelas situações absurdas que mostrava.
O tal programa se chama Doutor Hollywood, e conta as “agruras” de um cirurgião plástico com consultório em Beverly Hills. Nem comento o fato do dito cidadão, brasileiro radicado nos Estados Unidos, falar como se lá tivesse nascido, num português macarrônico, esquecido da língua-mãe. Acho isso de um pedantismo à toda prova: falar em português entremeando expressões inglesas porque esqueceu a palavra na língua original. Humpf.
Isso, porém, não foi o pior; é apenas o aperitivo para o que viria. Primeiro uma moça de 21 anos que queria seios maiores porque iriam ajudar em sua carreira. Ah, detalhe: ela era cabeleireira. Pois é: para cortar cabelo alheio ela precisa de um par de balões. E eu, que há anos corto o cabelo no Bola, sem nunca me preocupar se ele tem ou não “seios fartos”! Bruta béstia...
O outro caso era de uma senhôôôuuura queria esticar a fuça, como se isso fosse impedir que soubessemos que ela já estava “descendo o morro”: uma mulher de 50 anos NÃO consegue ter aparência de 35, mas foi exatamente isso que o cirurgião prometeu: quinze anos a menos, como se fosse desconto que vemos em vitrine de loja. O melhor de tudo: a bruaca foi lá intimamente desejando que o médico falasse que ela estava ótima, que não precisava de nada. Ingênua... Pois o dito-cujo, além das rugas que incomodavam madame, achou de esticar pescoço, trocar queixo, aumentar maçãs do rosto, o diabo. Claro, até eu que sou mais tonto faria o mesmo: o negócio dele é ganhar dinheiro com isso.
Além dessas duas, o auge foi uma atriz (?) de filmes 'adultos', querendo seios perfeitos e naturais... mas de silicone, claro! Aí começa o festival de peitaria prá lá e prá cá; lembrei dos leilões de gado pela televisão, onde desfilam com dificuldade vacas com úberes imensos. Ela - a moça, não a vaca - perdeu muitos trabalhos por não ter o peitame bonito, por isso queria trocar as próteses.Sim, caros leitores, ela já tinha peitos com 450 mililitros (outra novidade do mundo moderno: no meu tempo dizíamos que a mulher tinha peitos ovo frito, pêra, mamão ou jaca. Hoje mede-se em litros). Só que o raio do médico, muito 'ético' (claro, cheio de câmeras mostrando suas 'angústias e dilemas'), recusa-se a fazer a cirurgia caso a paciente não abandone o cigarro. Ela, num arroubo (claro, diante das lentes tinha que se perfazer), irrita-se com o doutor e diz que irá em busca de outro profissional.
Eu já ando farto e refarto de ver essas notícias de Botox, cinco litros de silicone, lipoaspiração, lifting e o raio que os parta. Cada vez mais vemos pessoas deformadas com tantas intervenções, no mais dos casos ficando piores do que já eram (ou não). Há pouco tempo vi uma entrevista de uma líndíssima – e novíssima – modelo que havia feito preenchimento labial. A moça, perfeita, submeteu-se à essa intervenção, que nãããão deu certo, e lá ficou com bico de pato um par de meses.
Fique claro: não sou contra a cirurgia plástica, assim como não sou contra a cesariana. Sou contra o modo com que são feitas, como se fossem garantia de felicidade e sucesso. No Brasil, em menos de 30 anos, inverteu-se radicalmente a forma de trazer crianças ao mundo: sofrer horas? Imagine! Parto com hora marcada. Ganha o médico, ganha o hospital, ganha (?) mamã. Amamentar? Cruz-credo!
Assim vamos caminhando, dando forma a velha idéia de que aparência é tudo. Vamos vendo cada dia mais mulheres com pele alaranjada, rosto sempre sorridente, olhos orientais, ao lado de homens com cabelos de boneca, peitorais de silicone e prótese peniana. Felizes, claro, pelo menos na aparência. Graças ao bom Deus que não podemos devassar suas almas – se é que eles tem.
Boa semana!
PS: para ilustrar o texto uma imagem nada original: Donatella Versace, padrão de “beleza” atual. Não bastasse a faccia, olhem os pés! Ficou igual a um tatu-canastra, raça de porcos muito comum antigamente no interior do país. Ah, Donatella é a que está sem colar.