segunda-feira, julho 06, 2009

Maicol morreu!

Esse cara morreu com atraso de 30 anos.”

Pedro Sanchez, 90, chauffeur aposentado e filósofo amador


Existe um velho ditado que diz que sogro rico e porco gordo só dão lucro depois que morrem. Pois foi o que me veio à idéia ao ver as recentes notícias sobre a morte de Michael Jackson: suas vendas post-mortem superaram as de Elvis e Lennon. E muita gente achando que os organizadores dos shows cancelados iriam ter prejuízo por ressarcir os fãs: o que se viu foi muita gente se recusando a ser reembolsado, mantendo o ingresso como suvenir. Não bastasse, li que todos os ensaios haviam sido filmados e breve serão lançados em DVD; logo, os organizadores não devem amargar tanto prejuízo. No momento em que escrevo, 17 mil ingressos se esgotaram para o velório, coisa que sempre atrai as grandes massas em se tratando de gente famosa. Gratuitos, os ingressos já começam a ser leiloados em sites como o E-bay, por valores que começam em 500 dólares. Sogro rico e porco gordo...


Não sou fã de Michael Jackson, mas seria hipocrisia minha dizer que era indiferente à sua figura: não fosse eu um trintão cuja infância e adolescência percorreram os célebres anos 80, ultimamente tão festejados em livros que resgatam seus maiores símbolos e modismos (quase todos, pelo olhar de hoje, condenáveis). Se nunca arrisquei o Moonwalk? Ou se não curti alguma fossa ouvindo Ben? Claro que sim, e não vou negar isso agora, do mesmo modo que não faço coro aos “órfãos” de Michael, gente que mal e mal o conhecia, mas que agora é amigo de infância, coisa que aliás sói acontecer com muita coisa (quanta gente pouco anos mais velha que eu e que jura ter “vivido os anos de chumbo! Só se foi na creche, com as inspetoras escolares). E parafraseando Juca-Pirama, meninos eu vi Michael Jackson preto! (Sim, nos anos 80 dizíamos preto e não corretamente como hoje afro-descendente).


Óbvio que ao assistir à cobertura na TV me veio à mente um monte de recordações daquele tempo, mas a mais marcante ( e ridícula) era usarmos meias brancas com sapatos pretos e logo receber o apelido de Michael Jackson. Falando em apelido, quantas crianças tiveram seu nome inspirado pelo astro pop? Digo inspirado porque a maioria era corruptela: Maicol, Maicon, Mikel, Maiquel, Maickel e por aí afora.


Ainda Maicol


Curioso que na mesma semana da morte do “rei do pop”, com a exibição ad nauseum de Thriller e similares, uma cena ironicamente cruel me chamou a atenção. Num dos intervalos em que se debatia com quem ficariam os filhos (?) ou qual o montante da dívida do Peter Pan alvejado (alvejado no sentido de clareamento), acharam espaço para uma matéria sobre a Cracolândia paulistana (área do centro onde vivem centenas de viciados em crack). A fotografia abaixo tem uma macabra similaridade com o famoso clipe de Michael Jackson, apenas com a leve diferença de que em São Paulo é real o desfile de zumbis em plena luz do dia.


Alguém já disse que a vida imita a arte?


Imagem: Paulo Pinto, AE, in Cadê a polícia?

2 comentários:

Ana Ramon disse...

Afinal já cá estava novo texto :)
Sobre o assunto pouco posso dizer. O MJ quando apareceu já era bem crescidinha, casada e com filhos. E os meus gostos musicais não estavam muito abertos ao seu estilo de música mas ainda assim não era totalmente incapaz de o ouvir. Sempre fui muito crítica a toda aquela transformação física e por vezes ficava a pensar na sensação estranha que devera ter todo aquele que consegue modificar o seu rosto definitivamente.
Depois há todo esse horrível interesse "post mortem" de que falas.
Mudando de assunto:
Estive a ler um artigo publicado no jornal Público a respeito da cobertura televisiva que se fez no dia em que Cristiano Ronaldo entrou para o Real Madrid. Diz assim: "...O que hoje se viu na multiplicação de directos de Ronaldo é o aproveitamento de um génio para chegar a uma criação artificial que rende audiências e, por causalidade, dinheiro. Muito dinheiro. Nada disto seria censurável se o peso do exagero não convertesse o desfile num episódio que suscita asco e lamento. Ronaldo não tem culpa, nem o Real Madrid, ou, com alguma complacência, as televisões. Quem tem, afinal, culpa é a cultura dominante que cada vez mais relativiza o essencial e se deleita com a imbecilidade..."
E com esta me vou!
Um grande beijinho

Leticia disse...

Interessante sua análise, viu? Vou linkar...

A diferença é que, para cada Maikonjets que morre, aparecem 100 no lugar...