Desde cedo estou a matutar no que escrever de Boa Semana. Os assuntos voejam pela minha cabeça como as borboletas que toda manhã namoram os hibiscos da cerca. Nada se assenta, nenhum tema começa a puxar um enredo atrás de si.
Descarto idéias, alguma pelo fato de a achar aborrecida para que lê, independente de ser agradável a quem a escreve; outra pelo fôlego exigido, e que hoje não é dos maiores.
Ocorre, porém, que a escrita é um exercício cuja prática leva à excelência. Portanto, nada mais coerente do que treinar a escrita, e existe um antigo método que consiste em desenvolver determinado tema de acordo com as informações que possuímos sobre ele, ainda que sejam poucas e de fraco embasamento. No bom e velho português: encher lingüiça.
Para fazer isso, é muito fácil: escolhe-se aleatoriamente um tema ou mesmo uma única palavra, e a partir dessa escolha inicia-se a escrita. Querem ver? Usando da metalinguagem, escreverei um texto sobre inspiração:
“Sentado diante do computador busco um assunto que, ao final da leitura, deixe nos lábios de quem o lê um leve esboço de sorriso, forma quase imperceptível balançando a cabeça, como a dizer “Esse Ricardo...”, no doce tom de reprimenda de avó.
Lembro das doze musas gregas, e logo o pensamento viaja pelo simbolismo do número: os meses do ano, os signos do zodíaco, os apóstolos de Cristo... Mas no momento nenhuma delas tem espaço na agenda para atender aos meus apelos. Mitologia grega seria um bom tema, mas por onde começar? Falar dos principais deuses e de sua morada, o Monte Olimpo, além de contar para quem não sabe que esses seres divinos só se alimentavam de néctar e ambrosia? Ou contar sobre os Doze Trabalhos de Hércules (olha do doze novamente), aqueles que acompanhei na infância junto com a turma do Pica Pau Amarelo? Não, assunto por demais vasto e fascinante para uma despretensiosa crônica dominical.
Poderia descrever o fim de tarde que avisto pela porta entreaberta, do frio tímido que vem chegando, das nuvens arrepiadas que mancham o cansado azul de outono. Escuto a triste fogo-apagou que lamenta não sei o quê, mas de modo tão sincero que logo nos põe uma tristeza na alma. Sorte minha que o bom e velho casal de joões-de-barro surge a desfazer a melancolia da tarde com seu dueto alegre e estridente no jambeiro do quintal.
Tarde de domingo naturalmente preguiçosa, que não ajuda em inspirar alguém que deseja escrever uma simples crônica, sem maiores desejos que o de não desapontar os fiéis amigos que religiosamente vem ler minhas histórias. Não quero uma linda história de amor, com lances empolgantes que façam palpitar os corações, nem tenho para contar uma dor imensa das tragédias clássicas.
Simplesmente a vontade de escrever uma crônica num dia em que a inspiração tirou folga e foi visitar os parentes no interior de Minas Gerais.”
Viram só? Fiquei como galinha nova que procura o ninho para botar seu primeiro ovo: roda pr´aqui, pr´acolá, não vai nem vem. Mas isso não demanda talento nenhum, apenas o meu cinismo em abusar deslavadamente da boa vontade dos magníficos e benevolentes leitores que eu tenho...
Boa semana!
domingo, junho 17, 2007
Do exercício da escrita...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Você está correto: quanto mais a gente escreve, mais a gente aprende a escrever. Continue praticando... ;-) eu sempre gosto de ler
Grande partida que nos pregaste, Ricardo :)) A gente à espera que não surgisse nada e afinal... como bem dizes da galinha que "roda pr´aqui, pr´acolá",mas sempre acaba por pôr o ovo.
Ah e obrigada pela lição do "pavio curto" (risos), nunca chegaria lá sem a tua ajuda. É o que faz termos um oceano entre nós. Beijinhos e uma boa semana
Postar um comentário