quarta-feira, agosto 09, 2006

BOA SEMANA (20/06/2006) - O pinguim no bonde

Ontem, ao receber mensagem de um velho amigo, entre outras coisas ele dizia ter ficado esperando o Boa Semana. Dei um tapa na testa: caracoles! Pois não é que com feriado, jogos e o diabo, acabei esquecendo de mandar o Boa Semana? Confesso que na hora corei de vergonha, e hoje dei tratos à bola pra tentar remediar. Bem, quando se briga com a namorada, o que fazemos depois? Tentamos adoçar-lhe o bico com algum bombom fino, não é?
Pois assim é que vou adoçar o bico dos meus leitores com uma história saborosa acontecida há alguns anos com meu amigo Lobato numa temporada em Santos. Ele mesmo conta em carta de 15 de julho de 1915 para o amigo Rangel:

“... Nas pedras de São Vicente peguei outro pingüim, de asinha machucada. E por causa deste coitadinho tive de brigar no bonde. Eu o trazia ao colo. O condutor, um português bem merecedor de que Cunhambebe o houvesse comido, implicou. “O regulamento purive conduzir aves nos bondes”. Eu quis discutir calmamente. “Aves tem pena, meu senhor, e onde estão as penas deste vivente?”, aleguei. Ele teimou que era ave. Eu jurei que o pingüim era filhote de foca, segundo a opinião de todos os zoólogos ou exploradores ao tipo Amundsen, etc. – uma coisa comprida. Minha idéia era manter a discussão até que me aproximasse da casa do Heitor, mas o raio do mondrongo teve uma idéia luminosa. Fazer parar o bonde. “Com a ave o bonde nan segue!” Eu ainda fiz chicana: “E se o Ruy estivesse aqui? Seguia ou não o bonde?” “Que Ruy?” perguntou o alarve. “Ruy, a Águia de Haia[1]”. Ele desconfiou que eu estava a “mangaire” e fez parar o bonde e foi a um telefone “falar à Companhia e pedir pruvidencias”. Voltou. Continuou o estúpido bate-boca. O bonde estava se atrasando. Havia mais gente dentro. Tive de ceder. Insultei-o à portuguesa e desci. A casa do Heitor não estava longe. Depois de exibido lá o meu pingüim, soltei-o de novo no mar. Com que gosto se meteu a nado! Quando vinha uma onda enristava o bico e furava-a. E lá foi nadando e sumiu-se ao longe. Talvez tenha sido o único pingüim no mundo que jamais andou de bonde.”

Bom, esperando ter me redimido do atraso, saio de fininho como o pinguim do Lobato...
Boa Semana!

[1] Rui Barbosa (1849-1923), jurista, jornalista e político brasileiro. A participação de Rui na Conferência da Paz, encerrada em 18 de outubro de 1907, repercutiu na imprensa internacional, colocando em evidência uma brilhante atuação. Quando desembarcou no Brasil um povo envaidecido e orgulhoso consagrava-o como a Águia de Haia. Rui atingia o ápice da glória.

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